domingo, 13 de maio de 2012

Promover a Biblioteca no Digital

"You are looking for empathy. You are looking for a sense of understanding that only comes with experiencing something for yourself. You are looking for honesty and authenticity. And you are looking for credibility." (1)

A Biblioteca escolar organiza-se num conjunto variado de funções que procuram responder ao essencial das opões educativas que a Escola como instituição promove. A leitura, as literacias, o apoio ao curriculo, a promoção cultural, o impacto que promove nas aprendizagens são exemplos das suas diversas opções de trabalho e de fundamentação da sua existência. De espaço de livros a BE evoluiu para um centro de gestão de informação, onde se conjugam as mais diversas literacias.

A informação coloca às bibliotecas escolares questões importantes, que correspondem às diferentes fases do processo informacional. No processo de circulação de informação, nem sempre se cuida de uma das suas etapas mais primiordiais (comunicação/difusão), sendo esta essencial para a funcionalidade da Biblioteca Escolar como serviço de uma instituição.

Na relação que estabelece com os seus tuilizadores, a BE necessita de uma estratégia comucacional que a revele, que faça que os seus utilizadores directos a sintam sua e que a instituição reconheça o seu insubstituível papel. Num mundo organizado social e culturalmente pelas novas ferramentas digitais, a BE precisa de as promover e de as aproveitar.

Aproveitar para formar utilizadores, mas também para difundir o que faz, conseguir construir serviços de referência, revelar que tipo de documentos constrói, que espaço dinamiza, que recursos utiliza, a que utilizadores chega e não necessáriamente os que fisicamente lá entram. Para este reconhecimento é essencial uma presença na Web consistente. É pois indispensável estar presente nas redes sociais, nos aplicativos que geram informação e em plataformas que lhe dêem significado.

É necessário fazer uma escolha de quais as que mais podem interessar àquela Biblioteca e ter um site. Um Site parece-me, pois uma ferramenta digital essencial para a Biblioteca. O site permite agregar a dimensão real do que é a dinâmica de uma Biblioteca. E permite-nos questionar que tipo de capacidade comunicativa estabelecemos com a comunidade que é servida. Um site é no momento, para uma Biblioteca uma porta de entrada no virtual, dando consistência e espelho ao que no espaço físico ela tenta ser de diferenciado no mundo da leitura e das literacias.

(1) http://darmano.typepad.com/logic_emotion/2007/09/questions-for-t.html

domingo, 6 de maio de 2012

Ler no digital


O digital oferece-nos múltiplas oportunidades de expressão, de dar novas formas à criatividade de cada um, concedendo-nos fontes de informação rápidas, diversificadas e em múltiplas plataformas. Os ebooks são um instrumento interessante para fazer o transporte de conteúdos significativos de informação, de um modo mais fácil, mais transportável. Não é fácil quando se vive dentro de uma conjuntura imaginar o que a estrutura social e cultural de uma sociedade evoluirá.

Não será difícil aceitar que os ebooks, como forma de transportar e ler informação terá um crescimento significativo e será utilizado por uma grande massa de utilizadores. Para nós, neste momento a leitura num leitor específico, (Itunes/kindle/Ipad) não é o que mais nos importa numa biblioteca. Se a biblioteca precisa de ser um espaço que oferece recursos, que disponibiliza um conjunto alargado de formas e métodos de promover a aprendizagem formativa, chegar a públicos de uma forma mais cativante é o seu grande objeto.

É necessário saber como estão a ser aplicadas as ferramentas digitais no sistema educativo. Novas ferramentas em sistemas educativos, organizados de forma centralizada e hierarquizados limitará o que mais importa, a criatividade e a inteligência. Podem os ebooks, pela sua leitura fazer-nos encontrar livros que não conhecemos? Apreendemos os conceitos desfolhando um livro de papel, do mesmo modo que o ebook o poderá fazer?

Considerar um download em PDF no Issuu, ou no Scribd como uma forma de divulgar a informação é uma possibilidade de trabalho e de diferenciar a informação. O ebook como forma generalizada de leitura tenho sérias dúvidas, pois o livro, como a maior invenção do espírito humano necessita do tempo e do silêncio para ser aquilo que Borges lhe reconhecia de uma forma única, " único objecto que é uma extensão do nosso corpo" e que por si só alimenta como nenhum outro a imaginação.

Precisamos de cultivar o que temos construído, como os catálogos conjuntos, a circulação do livro como objeto, a respiração dessas palavras, que são uma contínua conversação e não estar sempre dependentes de contínuas novidades que nos fazem tentar a ubiquidade sem que sejamos relacionais com os que nos rodeiam. É também uma visão de sociedade que importa analisar com a utilização que fazemos do digital.


Imagem (Via Bibliocomics)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Imagem como recurso

A imagem como marketing

A web 2.0 como atitude de construção de uma relação comunicativa interactiva, dinâmica e criativa é utilizada por diferentes instituições, que através de um conjunto de ferramentas promovem a sua informação mais pertinente que justifica a sua missão / existência.

A imagem é um recurso importante no marketing que as Bibliotecas devem fazer. O marketing que importa às Bibliotecas é o que dá uso da sua acção, das actividades que promove, do contacto que promove com o seu público, do modo como incorpora as sugestões dos utilizadores nas suas plataformas digitais.

As questões que aqui discutimos devem ser contextualizados. A dimensão a que os agrupamentos chegaram, numa clara perda de identidade e de individualização, que são essenciais ao papel educativo das escolas, necessitam de uma personalização na forma de comunicar.

É preciso primeiro resolver a questão, dos uso nas escolas / bibliotecas do modo como as redes sociais podem aproveitar e utilizar recursos educativos. É necessário saber como os dispositivos móveis podem contribuir para a construção de aprendizagens mais criativas e próximas da socialização dos alunos.

O marketing que uma Biblioteca necessita de fazer, é uma campanha continuada que se promove pelas actividades que conciliam o lúdico e as actividades de literacia de informação. A imagem só será substantiva na promoção de uma organização, se ela der corpo a uma estratégia de lideranças institucionais. A não ser assim, as criações do mais talentoso artista, serão apenas evidências de possibilidades sem inscrição no quotidiano das instituições, isto é da Biblioteca.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Partilhar conteúdos - Apresentações

A Web 2.o como já sucessivas vezes afirmámos vive muito da partilha de conteúdos, dando-nos a expressividade que cada um consegue colocar sobre a informação e as suas ideias, dando assim voz à criatividade individual. É sem dúvida uma forma de expressão, mas de aprendizagem de ideias, formatos, formas de ver o que nos rodeia.

As apresentações em slideshare, os podcasts, a construção de apresentações que interligam a imagem, o som e o áudio enriquecem as formas de aprender e de comunicar. As apresentações dinâmicas permitam a organização de conceitos e até o seu mapeamento torna mais visual as distintas, cinésticas e divergentes formas com que a inteligência se exprime. Os podcasts permitem a uma Biblioteca fazer uma animação digital e uma promoção de recursos muito interessante e de marketing efectivo aos utilizadores.

E o que pode partilhar uma Biblioteca Escolar? Os conteúdos que podem junto dos seus utilizadores serem interessantes, formativos  e lúdicos. Os trabalhos dos alunos são importantes serem publicados, utilizando critérios de rigor e de qualidade científica, de modo a dar visibilidade, mas também para motivar outros a participar. Os documentos devem ser organizados em etiquetas ou    alojados em páginas próprias. A recuperação dessa informação é importante.

É importante fazer a protecção dos documentos sobre os downloads e é essencial a Biblioteca investir numa estratégia de copyright, que lhe garanta os direitos de autor nesta web 2.0. O registo no Creative Commons ou o IBSN (Internet Blog Serial Number) são algumas dessas possibilidades.

Partilhar Conteúdos - As Imagens

A web 2.o de que aqui temos falado propõe-nos mais do que infraestruturas digitais, ferramentas de criação, colaboração e partilha de ideias que se podem exprimir em diferentes formatos, apelando à criatividade e capacidade comunicativa de cada um. A Web 2.o é assim uma estratégia de comunicação ao serviço da educação e de promoção do valor institucional de serviços como sejam as escolas, as bibliotecas públicas ou as que aqui nos importam as escolares.

O Flickr permite utilizar a fotografia como suporte de localização para projectos tão diversos como a caracterização de um local, de arquivo de fontes históricas relacionando-as com um determinado espaço, que pode ser o local onde se encontra, ou um museu que o recolheu. Pode ser usado para a mostra de trabalhos visuais, de ilustração sobre uma temática, uma leitura realizada. O Flickr permite agregar colecções de imagens em função de etiquetas e de álbuns criados.

Levanta algumas questões que são as que a Web 2.o levanta em relação aos direitos de autor. Há uma difusão de ideias, de partilha de informação, base para uma construção de conhecimento, mas há uma perda evidente da autoria dessas ideias que se vai alterando e perdendo no processo de transmissão entre diferentes utilizadores. Existe no Flickr a possibilidade de criar um copyright mais controlado ou mais aberto, mas isso não garante a autoria dos documentos.


A experiência que vou tendo e aquilo que tenho feito tem passado por utilizar imagens de alunos em planos cuidados de modo a garantir no âmbito do grupo uma integração menos individualizada de cada elemento. A criação de um ficheiro com autorizações dos alunos, embora seja um processo moroso e burocrático pode atenuar as dificuldades da gestão da imagem. Fazer os encarregados de educação escolher entre a publicação nos suportes de papel (Boletins), a sua integração em blogs / sites permite-lhes escolher uma difusão dessas imagens com objectivos diferenciados.

Guia de Literacia de Informação - Partilha de Conteúdos

Actividade - partilha de Conteúdos

sexta-feira, 20 de abril de 2012


Um Podcast sobre a poesia de David-Mourão Ferreira (Uma experiência)

Vasco_Figueiredo

Vasco_Figueiredo by bibliotecer
Vasco_Figueiredo, a photo by bibliotecer on Flickr.
O Cubismo numa actividade do 4º ano no ano lectivo de 2010/2011.

Leonel

Leonel by bibliotecer
Leonel, a photo by bibliotecer on Flickr.
O Cubismo visto por crianças do 4º A no ano lectivo 2010/2011.

Luís Lin

Luís Lin by bibliotecer
Luís Lin, a photo by bibliotecer on Flickr.
O Cubismo visto por crianças do 4º A no ano lectivo 2010/2011.

Madalena

Madalena by bibliotecer
Madalena, a photo by bibliotecer on Flickr.
O Cubismo visto por crianças do 4º A no ano lectivo 2010/2011.

Daniela

Daniela by bibliotecer
Daniela, a photo by bibliotecer on Flickr.
O Cubismo, numa actividade desenvolvida pelo 4º A no ano lectivo 2010/2011

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Uma esperança...


Pensar as possibilidades de nos exprimirmos e criarmos suportes imaginativos ao serviço de comunidades educativas também é considerar a consistência do que sabemos ser. Vivemos durante décadas no reino que sonhava a escola como uma luta de classes, onde todos seriam excelentes, numa sociedade moralmente relacionada com um facilitismo imprudente. Perguntamo-nos muitas vezes porque não sabemos ser competitivos e audazes como sociedade se acedemos a ferramentas semelhantes e se vivemos no mesmo mundo.

Durante anos alguns pensaram que o País apenas precisava de paradigma novo, uma espécie de oráculo que no fim alguma inteligente e bem preparada classe política acabaria por perceber. Parecia simples e era apenas uma questão de paciência até termos uma oportunidade de experimentar a simplicidade de lutar pelo estudo, pelo trabalho, pelo saber fazer, pelo mérito. Neste País onde o real não se inscreve na vida quotidiana e na vida pública, o prazer do saber, o gosto pelo belo e pelo admirável acabaria por triunfar.

É triste dizê-lo. Mas o conjunto de individualidades que governa o País e em especial o actual ministro que parecia tão bem preparado para perceber que a educação é realmente o factor transformador, apenas gere uma máquina calculadora. Os desastres comunicacionais, as opções contra as pessoas e contra o território, as escolhas educativas contra áreas vitais da aprendizagem (artes, tecnologia, dimensão de turmas) mostra-nos que este paradigma de uma sociedade evoluída e esclarecida são ilusões. O valor, o saber, que podia e devia estar associado à realização de provas de exigência são um álibi para se manter a mesma falta de decência para o que significa um regime democrático.

Resta uma pergunta. O que tem isto a ver com blogues e o digital? Tudo. Nós estamos a tentar perceber como funcionam os circuitos binários da comunicação, dos media, da expressão de valores e ideias partilhadas e colaborativas, ao mesmo tempo que se apresenta um patamar de subdesenvolvimento em relação às pessoas, aos recursos humanos não valorizados e ao funcionamento de espaços sem o essencial. Ainda não sabemos ser essa ousadia da companhia solitária e atenta do livro que se descobre e pensa. 

As decisões nunca são questionadas sobre a sua própria moralidade e vivemos tanto de Democracia, como os últimos imperadores do Império Romano, guardando as colunas do passado face ao futuro que não experimentamos. As Bibliotecas Escolares e as Escolas estão prisioneiras de um País sem visão e isso também tem muito que ver com a utilização do digital. As reais possibilidades do digital nas escolas está carente de um investimento nos aspectos simbólicos e não se construirá apenas pela existência de infraestruturas tecnológicas. Aguardemos que um dia esta simplicidade seja perceptível, para que a escola seja realmente um espaço de comunicação e de transformação de possibilidades.

(Imagem, via booklover.tumblr.com)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Práticas educativas e o digital

Numa formação de Web 2.0 faz todo o sentido pensar e reflectir sobre que relações podemos estabelecer entre as práticas educativas e o uso das ferramentas digitais. Apesar de todo o conhecimento acumulado nós, como sociedade não temos a mínima noção sobre o que nos trará o futuro da educação. Não sabemos que organização funcional terão as profissões no anos adiante, nem que tipo de evolução económica viveremos. Temos, pois na educação, como na sociedade uma imensa imprevisibilidade. Apesar de tudo, sabemos algumas coisas.

Sabemos que as tecnologias digitais são um suporte às transformações sociais e culturais que vamos vivendo. Sabemos que estas ferramentas favorecem a comunicação e alargam as possibilidades formativas dos alunos. Sabemos que a educação e o trabalho se desenvolvem em quadros colaborativos, de construção pessoal de identidades e de afirmação de suportes criativos. Mas há questões a colocar.

É necessário perguntar, que relação temos entre o uso das tecnologias educativas e o sucesso nos resultados escolares, na pluralidade das aprendizagens? Esta questão conduz-nos à questão essencial, está o digital a transformar o currículo e a qualidade do aprender na escola? Que implicação na aprendizagem e nos métodos tiveram programas como o PTE ou o E-Escolas? Foram mais que infraestruturas tecnológicas? Estavam suportadas pela motivação simbólica de pensar os conteúdos da aprendizagem também pelos necessários resultados escolares?

E uma última questão essencial. Houve envolvência da gestão das escolas/agrupamentos pela necessária liderança de projectos educativos que vissem nelas, oportunidades de aprendizagem, formas diferenciadas de construir conhecimento em suportes novos de expressão de valor e de capacidade? Houve o sentido de utilizar o digital como modo de comunicar na escola e com o meio social e cultural que a rodeia?

Estas são questões que nos mostram que as práticas educativas no digital são um meio que carece de entusiasmo, vontade e criatividade que entre nós estão muito longe de uma aproximação ao essencial, para que sejam ferramentas de transformação. Sem conteúdo simbólico, as ferramentas digitais serão uma vista agradável, interessante, uma espécie de "Peter Pan" do nosso deslumbramento, mas pouco acrescentarão à necessária possibilidade de aprender e participar numa sociedade dominada pela informação.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Os Recursos Educativos Digitais

"Para as crianças e jovens do século XXI, as competências de literacia digital podem ser mais vitais do que o conhecimento factual, nomeadamente para as oportunidades no mundo do trabalho. As competências de ser capaz de distinguir fontes de informação fidedignas das que não têm credibilidade, assim como de filtrar, resumir e analisar criticamente diferentes fontes de informação, são essenciais na sociedade actual. Não é suficiente ter literacia tecnológica, isto é, saber utilizar o equipamento tecnológico, o que é verdadeiramente importante é desenvolver a literacia digital, no sentido de ser capaz de utilizar de forma racional a enorme quantidade e diversidade de informação e interacções, disponíveis nas redes digitais."

"Utilização da Internet por Raparigas e Rapazes: Promover a Inclusão", artigo integrado em Género e Recursos Educativos Digitais, publicado pelos Cadernos ERTE, da DGIDC levanta questões importantes que vale a pena pensar. O Digital como ferramenta formadora de uma cidadania participativa, integradora do género e capaz de fazer intervir socialmente cada um que no seu processo de aprendizagem se relaciona com o mundo. 

A relação entre o meio social e a utilização do digital poderá incrementar as potencialidades de uma intervenção mais estruturada e por isso mais consistente no que cada um pode exprimir. Pode o digital ser desenvolvido e apreendido pelos jovens no sentido de que incorpore real valor nos resultados escolares e assim construir uma integração social mais profunda? É uma temática interessante que importa considerar. A quem possa interessar pensar no que envolve esta problemática, alguns interessantes textos. A ver aqui.

domingo, 18 de março de 2012

Uma carta à nossa indiferença

Através do blog do Paulo Guinote tive conhecimento que uma professora não resistiu ao circo em que se transformaram muitas escolas, onde o saber é um luxo para dementes, onde a dignidade e o respeito são artefactos tão respeitados como o pó dos caminhos. Não há tecnologia que supere esta fraqueza do espírito, esta desistência por uma sociedade decente. E é por esta tristeza que aqui deixo uma carta, escrita pela filha, que revela mais discernimento que gerações inteiras de ministros da educação e de governos sábios. E amanhã voltaremos a esquecer o essencial, vivendo na sombra do falso idealismo de quem se transporta para o futuro no rigor económico da inteligência que tudo compreende, sem nada de essencial para construir.

As reformas na educação estão na boca do mundo há mais anos do que os que conseguimos recordar, chegando ao ponto de nem sabermos como começaram nem de onde vieram.
Confessando, sou apenas uma das que passaram das aulas de uma hora para as aulas de noventa minutos e achei aquilo um disparate total. Tirava-nos intervalos, tirava-nos momentos de caçadinhas e de saltar à corda e obrigava-nos a estar mais tempo sentados a ouvir sobre reis, rios, palavras estrangeiras e números primos.
Depois veio o secundário e deixámos de ter 'folgas' porque passou a haver professores que tinham que substituir os que faltavam e nós ficávamos tristes. Não era porque não queríamos aprender, era porque as “aulas de substituição” nos cansavam mais do que as outras. Os professores não nos conheciam, abusávamos deles e era como voltar ao zero.
Eu era pequenina. E nunca me passou pela cabeça pensar no lado dos professores. Até ao dia 1 de Março.

Foi o culminar de tudo. Durante semanas e semanas ouvi a minha mãe, uma das melhores professoras de Inglês que conheci, o meu pilar, a minha luz, a minha companhia, a encher a boca séria com a palavra depressão. A seguir vinham os tremores, as preocupações, as queixas de pais, as crianças a quem não conseguimos chamar crianças porque são tão indisciplinadas que parece que lhes falta a meninice. Acreditem ou não, há pais que não sabem o que estão a criar. Como dizia um amigo meu: “Antigamente, fazíamos asneiras na escola e quando chegávamos a casa levávamos uma chapada do pai ou da mãe. Hoje, os miúdos fazem asneiras eos pais vão à escola para dar a dita chapada nos professores”. Sim, nos professores. Aqueles que tomam conta de tantos filhos cujos pais não têm tempo nem paciência para os educar. Sim, os professores que fazem de nós adultos competentes, formados, civilizados. Ou faziam, porque agora não conseguem.

A minha mãe levou a maior chapada de todas e não resistiu. Desculpem o dramatismo mas a escola, o sistema educativo, a educação especial, a educação sexual, as provas de aferição e toda aquela enormidade de coisas que não consigo sequer enumerar levaram deste mundo uma das melhores pessoas que por cá andaram. E revolta-me não conseguir fazer-lhe justiça.
Professores e responsáveis pela educação, espero que leiam isto e acordem, revoltem-se, manifestem-se (ainda mais) mas, sobretudo e acima de qualquer outra coisa,conversem e ajudem-se uns aos outros. Levem a história da minha mãe para as bocas do mundo, para as conversas na sala dos professores e nos intervalos, a história de uma mulher maravilhosa que se suicidou não por causa de uma vida instável, não por causa de uma família desestruturada, não por dificuldades económicas, não por desgostos amorosos mas por causa de um trabalho que amava, ao qual se dedicou de alma e coração durante 36 anos.

De todos os problemas que a minha mãe teve no trabalho desde que me conheço (todos os temos, todos os conhecemos), nunca ouvi a palavra “incapaz” sair da boca dela. Nunca a vi tão indefesa, nunca a conheci como desistente, nunca pensei ouvir “ando a enganar-me a mim mesma e não sei ser professora”.
Mas era verdade. Ela soube. Ela foi. Ela ensinou centenas de crianças, ela riu, ela fez o pino no meio da sala de aulas, ela escreveu em quadros a giz e depois em quadros electrónicos. Ela aprendeu as novas tecnologias. O que ela não aprendeu foi a suportar a carga imensa e descabida que lhe puseram sobre os ombros sem sentido rigorosamente nenhum. Eu, pelo menos, não o consigo ver. E, assim, me manifesto contra toda esta gentinha que desvaloriza os professores mais velhos, que os destrói e os obriga a adaptarem-se a uma realidade que nunca conheceram.

E tudo isto de um momento para o outro, sem qualquer tipo de preparação ou ajuda. Esta, sim, é a minha maneira de me revoltar contra aquilo que a minha mãe não teve forças para combater. Quem me dera ter conseguido aliviá-la, tirar-lhe aquela carga estupidamente pesada e que ninguém, a não ser quem a vive, compreende. Eu vivi através dela e nunca cheguei a compreender. Professores, ajudem-se. Conversem.
E, acima de tudo, não deixem que a educação seja um fardo em vez de ser a profissão que vocês escolheram com tanto amor. Pensem no amor. E, com ele, honrem a vida maravilhosa que a minha mãe teve, até não poder mais”.

Sara Fidalgo
Imagem, Bernadette Heemskerk, End of Season

segunda-feira, 5 de março de 2012

A BE e as novas tecnologias

"Porque no habrá uma nueva sociedad, baseada em transformar informácion en conocimiento, sin tecnología, cultura y educación" (1)


Os últimos vinte anos viram nascer gradualmente a utilização de ferramentas tecnológicas que nos trouxeram a possibilidade de chegar ao contacto com o mundo de uma forma muito mais rápida e interactiva no acesso à informação. Os alunos antes de estudantes, são utilizadores dos media. Assim as escolas necessitam de trabalhar as  capacidades de “leitura” da informação. Capacidades que tornem a Biblioteca Escolar um centro criterioso de construção de conteúdos informativos e os possam disponibilizar na construção do currículo por alunos e docentes. Esta questão conduz-nos a relacionar Bibliotecas Escolares, Literacia e Currículo e a trazer algumas ideias/pistas de acção, a saber:
1. As novas competências que promovem o trabalho colaborativo, a capacidade reflexiva e a sua aplicação a diferentes contextos de aprendizagem;
2. As áreas de intervenção de uma experimentação das temáticas que se integram no ensino-aprendizagem; 
3. As Literacias de informação, mas também as digitais que permitam a utilização criteriosa e de uso adequado pelos jovens dos meios tecnológicos; 
4. A gestão da informação que deve ser pensada pela Biblioteca, mas também em todo o Agrupamento, como uma ferramenta e um meio para intervir criticamente;
A Biblioteca Escolar no início do século XXI necessita assim de conhecer os meios que permitam uma nova forma de construir o conhecimento que deverá ser sempre autónomo na sua utilização. 
(1) Antonio Rodriguez de las Heras, in http://www.rodriguezdelasheras.es/

As possibilidades da BE

Para a geração que se formou e cresceu à sombra dos livros, a Biblioteca era e ainda o é, ainda que em memórias, o local de uma certa divindade, onde se concentravam tempo e espaço, o reservatório que alimentava a imaginação.

É preciso reconhecer que o digital e as mudanças sociais nos faz repensar a Biblioteca como um serviço, como um espaço de motivação à leitura, à formação, à aprendizagem e à disponibilidade de recursos digitais, por onde se organizam aprendizagens e comunidades.

A Biblioteca tem hoje inevitavelmente de ser isto. Mas vista como um imenso recurso, um serviço, não pode ser também o local por onde no silêncio, na meditação se constroem ideias? Não pode ser esse local de peregrinação pelas ideias, onde as vozes de cada um ainda podem ser escutadas? Acredito nas possibilidades desta Biblioteca que pelo digital se promove e organiza. Mas é essencial continuar a exercitar a memória da sombra dos livros.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Começar

"De los diversos instrumentos inventados por el hombre, el más asombroso es el libro; todos los demás son extensions de su cuerpo... Sólo el libro es uma extension de la imaginación y la memória" (Jorge Luís Borges).
Chamei a este blogue de formação em Web 2.o Biblioimagine, no sentido de que a Biblioteca é um espaço de construção, revela-se de algum modo num sentido de divindade, pois concentra perante nós o passado, o presente e o futuro. Ela permite construir a nossa imaginação, ouvindo as vozes que como nós se confrontaram com as inquietações e as dúvidas do Ser.

Mudei no layout para Bibliotech, porque o que aqui iremos tratar é esse diálogo entre memória e conhecimento, experiência e criatividade e aí pareceu-me que conciliava melhor a ideia que tenho do que pode ser a Biblioteca. Este termo como registo não estava disponível, daí a alteração que fiz, em concordância com a imagem que nos transmite o essencial, a capacidade que cada um tem em criar.

Esta é uma formação em Web 2.0, o reino das ferramentas digitais e das suas possibilidades na construção e difusão de informação. Acredito nestas formas novas de nos exprimirmos. Mas é essencial antes de tudo termos a noção que sem a leitura, sem o pensamento, sem a cultura e sem a reflexão nos aspectos simbólicos, a tecnologia, pouco nos servirá. O livro continua a ser a maior criação do espírito humano e um pouco de humildade é nos essencial para sabermos usar criticamente meios fascinantes, mas limitados ao que soubermos pensar.