segunda-feira, 26 de março de 2012

Os Recursos Educativos Digitais

"Para as crianças e jovens do século XXI, as competências de literacia digital podem ser mais vitais do que o conhecimento factual, nomeadamente para as oportunidades no mundo do trabalho. As competências de ser capaz de distinguir fontes de informação fidedignas das que não têm credibilidade, assim como de filtrar, resumir e analisar criticamente diferentes fontes de informação, são essenciais na sociedade actual. Não é suficiente ter literacia tecnológica, isto é, saber utilizar o equipamento tecnológico, o que é verdadeiramente importante é desenvolver a literacia digital, no sentido de ser capaz de utilizar de forma racional a enorme quantidade e diversidade de informação e interacções, disponíveis nas redes digitais."

"Utilização da Internet por Raparigas e Rapazes: Promover a Inclusão", artigo integrado em Género e Recursos Educativos Digitais, publicado pelos Cadernos ERTE, da DGIDC levanta questões importantes que vale a pena pensar. O Digital como ferramenta formadora de uma cidadania participativa, integradora do género e capaz de fazer intervir socialmente cada um que no seu processo de aprendizagem se relaciona com o mundo. 

A relação entre o meio social e a utilização do digital poderá incrementar as potencialidades de uma intervenção mais estruturada e por isso mais consistente no que cada um pode exprimir. Pode o digital ser desenvolvido e apreendido pelos jovens no sentido de que incorpore real valor nos resultados escolares e assim construir uma integração social mais profunda? É uma temática interessante que importa considerar. A quem possa interessar pensar no que envolve esta problemática, alguns interessantes textos. A ver aqui.

domingo, 18 de março de 2012

Uma carta à nossa indiferença

Através do blog do Paulo Guinote tive conhecimento que uma professora não resistiu ao circo em que se transformaram muitas escolas, onde o saber é um luxo para dementes, onde a dignidade e o respeito são artefactos tão respeitados como o pó dos caminhos. Não há tecnologia que supere esta fraqueza do espírito, esta desistência por uma sociedade decente. E é por esta tristeza que aqui deixo uma carta, escrita pela filha, que revela mais discernimento que gerações inteiras de ministros da educação e de governos sábios. E amanhã voltaremos a esquecer o essencial, vivendo na sombra do falso idealismo de quem se transporta para o futuro no rigor económico da inteligência que tudo compreende, sem nada de essencial para construir.

As reformas na educação estão na boca do mundo há mais anos do que os que conseguimos recordar, chegando ao ponto de nem sabermos como começaram nem de onde vieram.
Confessando, sou apenas uma das que passaram das aulas de uma hora para as aulas de noventa minutos e achei aquilo um disparate total. Tirava-nos intervalos, tirava-nos momentos de caçadinhas e de saltar à corda e obrigava-nos a estar mais tempo sentados a ouvir sobre reis, rios, palavras estrangeiras e números primos.
Depois veio o secundário e deixámos de ter 'folgas' porque passou a haver professores que tinham que substituir os que faltavam e nós ficávamos tristes. Não era porque não queríamos aprender, era porque as “aulas de substituição” nos cansavam mais do que as outras. Os professores não nos conheciam, abusávamos deles e era como voltar ao zero.
Eu era pequenina. E nunca me passou pela cabeça pensar no lado dos professores. Até ao dia 1 de Março.

Foi o culminar de tudo. Durante semanas e semanas ouvi a minha mãe, uma das melhores professoras de Inglês que conheci, o meu pilar, a minha luz, a minha companhia, a encher a boca séria com a palavra depressão. A seguir vinham os tremores, as preocupações, as queixas de pais, as crianças a quem não conseguimos chamar crianças porque são tão indisciplinadas que parece que lhes falta a meninice. Acreditem ou não, há pais que não sabem o que estão a criar. Como dizia um amigo meu: “Antigamente, fazíamos asneiras na escola e quando chegávamos a casa levávamos uma chapada do pai ou da mãe. Hoje, os miúdos fazem asneiras eos pais vão à escola para dar a dita chapada nos professores”. Sim, nos professores. Aqueles que tomam conta de tantos filhos cujos pais não têm tempo nem paciência para os educar. Sim, os professores que fazem de nós adultos competentes, formados, civilizados. Ou faziam, porque agora não conseguem.

A minha mãe levou a maior chapada de todas e não resistiu. Desculpem o dramatismo mas a escola, o sistema educativo, a educação especial, a educação sexual, as provas de aferição e toda aquela enormidade de coisas que não consigo sequer enumerar levaram deste mundo uma das melhores pessoas que por cá andaram. E revolta-me não conseguir fazer-lhe justiça.
Professores e responsáveis pela educação, espero que leiam isto e acordem, revoltem-se, manifestem-se (ainda mais) mas, sobretudo e acima de qualquer outra coisa,conversem e ajudem-se uns aos outros. Levem a história da minha mãe para as bocas do mundo, para as conversas na sala dos professores e nos intervalos, a história de uma mulher maravilhosa que se suicidou não por causa de uma vida instável, não por causa de uma família desestruturada, não por dificuldades económicas, não por desgostos amorosos mas por causa de um trabalho que amava, ao qual se dedicou de alma e coração durante 36 anos.

De todos os problemas que a minha mãe teve no trabalho desde que me conheço (todos os temos, todos os conhecemos), nunca ouvi a palavra “incapaz” sair da boca dela. Nunca a vi tão indefesa, nunca a conheci como desistente, nunca pensei ouvir “ando a enganar-me a mim mesma e não sei ser professora”.
Mas era verdade. Ela soube. Ela foi. Ela ensinou centenas de crianças, ela riu, ela fez o pino no meio da sala de aulas, ela escreveu em quadros a giz e depois em quadros electrónicos. Ela aprendeu as novas tecnologias. O que ela não aprendeu foi a suportar a carga imensa e descabida que lhe puseram sobre os ombros sem sentido rigorosamente nenhum. Eu, pelo menos, não o consigo ver. E, assim, me manifesto contra toda esta gentinha que desvaloriza os professores mais velhos, que os destrói e os obriga a adaptarem-se a uma realidade que nunca conheceram.

E tudo isto de um momento para o outro, sem qualquer tipo de preparação ou ajuda. Esta, sim, é a minha maneira de me revoltar contra aquilo que a minha mãe não teve forças para combater. Quem me dera ter conseguido aliviá-la, tirar-lhe aquela carga estupidamente pesada e que ninguém, a não ser quem a vive, compreende. Eu vivi através dela e nunca cheguei a compreender. Professores, ajudem-se. Conversem.
E, acima de tudo, não deixem que a educação seja um fardo em vez de ser a profissão que vocês escolheram com tanto amor. Pensem no amor. E, com ele, honrem a vida maravilhosa que a minha mãe teve, até não poder mais”.

Sara Fidalgo
Imagem, Bernadette Heemskerk, End of Season

segunda-feira, 5 de março de 2012

A BE e as novas tecnologias

"Porque no habrá uma nueva sociedad, baseada em transformar informácion en conocimiento, sin tecnología, cultura y educación" (1)


Os últimos vinte anos viram nascer gradualmente a utilização de ferramentas tecnológicas que nos trouxeram a possibilidade de chegar ao contacto com o mundo de uma forma muito mais rápida e interactiva no acesso à informação. Os alunos antes de estudantes, são utilizadores dos media. Assim as escolas necessitam de trabalhar as  capacidades de “leitura” da informação. Capacidades que tornem a Biblioteca Escolar um centro criterioso de construção de conteúdos informativos e os possam disponibilizar na construção do currículo por alunos e docentes. Esta questão conduz-nos a relacionar Bibliotecas Escolares, Literacia e Currículo e a trazer algumas ideias/pistas de acção, a saber:
1. As novas competências que promovem o trabalho colaborativo, a capacidade reflexiva e a sua aplicação a diferentes contextos de aprendizagem;
2. As áreas de intervenção de uma experimentação das temáticas que se integram no ensino-aprendizagem; 
3. As Literacias de informação, mas também as digitais que permitam a utilização criteriosa e de uso adequado pelos jovens dos meios tecnológicos; 
4. A gestão da informação que deve ser pensada pela Biblioteca, mas também em todo o Agrupamento, como uma ferramenta e um meio para intervir criticamente;
A Biblioteca Escolar no início do século XXI necessita assim de conhecer os meios que permitam uma nova forma de construir o conhecimento que deverá ser sempre autónomo na sua utilização. 
(1) Antonio Rodriguez de las Heras, in http://www.rodriguezdelasheras.es/

As possibilidades da BE

Para a geração que se formou e cresceu à sombra dos livros, a Biblioteca era e ainda o é, ainda que em memórias, o local de uma certa divindade, onde se concentravam tempo e espaço, o reservatório que alimentava a imaginação.

É preciso reconhecer que o digital e as mudanças sociais nos faz repensar a Biblioteca como um serviço, como um espaço de motivação à leitura, à formação, à aprendizagem e à disponibilidade de recursos digitais, por onde se organizam aprendizagens e comunidades.

A Biblioteca tem hoje inevitavelmente de ser isto. Mas vista como um imenso recurso, um serviço, não pode ser também o local por onde no silêncio, na meditação se constroem ideias? Não pode ser esse local de peregrinação pelas ideias, onde as vozes de cada um ainda podem ser escutadas? Acredito nas possibilidades desta Biblioteca que pelo digital se promove e organiza. Mas é essencial continuar a exercitar a memória da sombra dos livros.